Espera

Fila continua na Secretaria de Assistência Social

Demanda por novos pedidos e atualização do Auxilio Brasil tem levado muitas pessoas até o local

Jô Folha -

Depois de ter o benefício cancelado pelo INSS e ficar sem o rendimento do mês, Oscar Fiala, 62, foi para a fila da unidade do Cadastro Único (CadÚnico), na rua Três de Maio, entre Osório e Deodoro, centro de Pelotas, às 19h de domingo. Foram longas 11 horas de espera até ser atendido, na manhã de segunda-feira (7). Ele busca entender o que aconteceu para haver o cancelamento e esperava sair do local com o benefício garantido. “Sem o cartão, o banco não paga. Fui ao Instituto e me mandaram para cá”, disse. O dilema de esperar horas para garantir atendimento na unidade Pelotas é enfrentado por centenas de pelotenses e se repete há quatro meses.

Na mesma manhã em que Fiala buscava solução para seu problema, cerca de cem pessoas aguardavam em pé, em cadeiras de praia ou mesmo sentadas na calçada, mesmo sabendo que são distribuídas diariamente entre 40 a 45 fichas pela coordenação do programa. A justificativa alegada pela Secretaria de Assistência Social (SAS) para o número ofertado é a manutenção dos cuidados com os protocolos de medida sanitárias devido à Covid-19.

Há cerca de três meses, a SAS havia informado que um novo prédio, na rua Dom Pedro II, estava sendo estruturado para tal atendimento e que a situação seria resolvida ainda em 2021. A promessa deve ser cumprida nos próximos dias, segundo a prefeitura. “A SAS está finalizando o processo de locação do novo prédio que vai abrigar o serviço. A documentação está aprovada pela Procuradoria Geral do Município e aguarda apenas alguns trâmites serem concluídos e, posterior a isso, a assinatura do contrato com o proprietário do imóvel”, diz o Executivo através da assessoria.

Demanda deve se manter

O novo prédio deverá acomodar melhor as pessoas que agora tentam receber o Auxílio Brasil, após o fim do Auxílio Emergencial do governo federal oferecido durante a pandemia para milhares de pelotenses que não estavam no CadÚnico e ficaram desempregados nesse período. A estimativa é que esse sejam mais de 50 mil pessoas no município.

Diretor-executivo do CadÚnico, Maicon Machado explica que usuários do Bolsa Família, mais de 10,1 mil, migraram automaticamente para o Auxílio Brasil, mas mesmo assim é preciso apresentar documentação para atualizar o sistema. Ele lembra que o cadastro precisa ser renovado a cada dois anos. Quem é da zona rural, o atendimento é feito à tarde, com a distribuição diária de 15 fichas. “Mas há pessoas que buscam por outros serviços e, por isso, sempre temos o cuidado de fazer a triagem, para priorizar os casos como contas do INSS que foram bloqueadas ou do Benefício de Prestação Continuada, o BPC/Loas”, assinalou.

Descentralização e mais filas

Três Centros de Referência de Assistência Social (Cras) também realizam o Cadastro Único: Fragata, Três Vendas e Areal. Porém, usuários relatam que são distribuídas apenas dez fichas nestes locais e que alguns casos são encaminhados para a SAS. A prefeitura nega. Na fila de ontem, pessoas afirmavam que, mesmo permanecendo na fila durante a madrugada nos Centros para tentar atendimento, ainda são encaminhadas para CadÚnico.

“Se somos contemplados no Cras com um agendamento, temos que vir até a secretaria e ficar na fila também até chegar a vez”, explicou a dona de casa Eliane Dias Ruas, 43. Ela deixou de receber o benefício há sete anos. Nesse meio tempo conseguiu emprego de carteira assinada. Como o contrato entra para o sistema, o cartão foi cancelado. Uma vez desempregada atualmente e com três filhos em idade escolar, busca novamente o auxílio do governo, pois é a única provedora de renda em casa.

O titular da SAS, secretário José Olavo Passos, diz que os Cras têm autonomia para realizar o Cadastro Único dos usuários, sem precisar encaminhá-los à secretaria para isso. Recentemente os Cras Areal, Três Vendas e Fragata mudaram o sistema de agendamento, realizado uma vez ao mês, por demanda espontânea, com a distribuição de 25 fichas diárias nesses três locais, o que totaliza 75 atendimentos, sem contar a busca por informações que não são considerados nesses números.

“Com a mudança no formato de atendimento, buscamos resolver uma reclamação antiga quanto à demora para agendamento. Agora as pessoas podem procurar os Cras e serão atendidas sem a necessidade de precisar retornar em outro dia. Muitos municípios continuam fazendo dessa forma, mas entendemos que pela demanda espontânea as pessoas terão mais agilidade na busca por suas questões”, argumenta.

Questão de cultura

Na avaliação da coordenadoria da unidade Pelotas do CadÚnico, devido à crise econômica instalada no Brasil, a demanda ainda se estenderá e novos pedidos de ajuda surgirão. Um exemplo é da diarista Mercedes Ferreira, 58, que não tem condições de pagar uma conta do Sanep de R$ 6 mil em fevereiro. “Alegaram que foi um vazamento, que eu nunca vi. Tentei negociar com a autarquia, mas não aceitaram. Minha última esperança é aqui, pois já cortaram a água na minha casa, na Guabiroba”. Ela chegou na fila às 22h e, por volta das 8h30min, conseguiu acessar o prédio do CadÚnico.

Segundo a Secretaria de Assistência Social, a média de atendimentos diários no Cadastro Único é de 60 pessoas. A procura por informações fica em média de cem atendimentos diários.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Acesso a Pelotas há dois meses sem iluminação Anterior

Acesso a Pelotas há dois meses sem iluminação

Pelotas registra mais dois óbitos por Covid-19 Próximo

Pelotas registra mais dois óbitos por Covid-19

Deixe seu comentário